Michel Temer e Eliseu Padilha |
Enquanto PT, PSB e PSDB se desgastam no vale-tudo da eleição presidencial, o PMDB trabalha sem alarde para eleger o maior número de governadores e parlamentares, permanecendo indispensável a qualquer governo, seja de qual partido for.
Com o esgarçamento da relação com o PT, o PMDB ensaia buscar um projeto próprio de poder, para deixar de ser caudatário de outras legendas.
O presidente do PMDB, Michel Temer – como vice-presidente da República que concorre à reeleição na chapa da presidente Dilma Rousseff -, está envolvido até o pescoço na campanha nacional. Sua agenda de viagens tem sido intensa.
Só nesta semana estavam previstos compromissos eleitorais em São Paulo, no Maranhão, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
A reeleição de Temer na Vice-Presidência por mais quatro anos, no entanto, não é “a” prioridade de todo o partido. A base nunca viu vantagem na ocupação do cargo e as lideranças já se cansaram do PT.
Para evitar que o PMDB se dissolva com o tempo, o comando partidário quer tocar outro projeto: preparar um programa de governo e uma candidatura própria para presidente da República em 2018.
Indispensável a qualquer governo, PMDB quer sua vez
A tese é antiga e nunca vingou, até por falta de nomes. Mas desta vez Temer tem se comprometido publicamente com essa meta.
A falta de um pré-candidato natural não pode ser empecilho, na opinião do deputado Eliseu Padilha (RS), presidente da Fundação Ulysses Guimarães – instituição do partido que desenvolve projetos de pesquisa, cursos de educação política e outras atividades. Padilha sempre defendeu a tese, mas agora diz que “não há hipótese” de o partido não lançar candidato a presidente em 2018.
“Nome é secundário. Primeiro, a gente tem que ter interlocução com a sociedade. É assim que se faz política. É o partido ser interlocutor de causas da sociedade. Senão, não temos nenhuma chance de ser bem sucedidos no projeto nacional”, diz o deputado, um dos representantes do PMDB na campanha nacional e o dirigente pemedebista mais próximo de Temer.
Padilha e o vice-presidente têm defendido que o PMDB resgate e fortaleça a interlocução com os vários setores da sociedade. O deputado propõe que o partido realize um Congresso logo após as eleições para dar o pontapé inicial do projeto 2018, discutindo e aprovando um plano e um cronograma de ações que torne viável a candidatura própria à Presidência da República.
Até lá, o PMDB quer manter o posto de maior partido do país. Nas eleições de 2014, a cúpula espera eleger as maiores bancadas de senadores e deputados federais. O objetivo é manter pelo menos a Presidência do Senado – e, consequentemente, a do Congresso. Outra previsão é eleger o maior número de governadores (nove ou dez).
Os Estados nos quais o partido disputa o governo com maiores chances são Rio de Janeiro, Espírito Santo, Alagoas, Ceará, Rio Grande do Norte, Pará, Amazonas, Tocantins e Rondônia. O partido ainda contabiliza entre as possibilidades o Paraná e o Maranhão.
Mesmo que Dilma e seu vice sejam eleitos, o comando do PMDB pretende deixar claro que em 2018 o partido terá seu próprio projeto de poder e apresentará um nome para a corrida ao Palácio do Planalto.
A convicção é que, se continuar integrando uma aliança secundária, o PMDB vai minguar.
Os dirigentes estão certos de que o PMDB continuará tendo as maiores bancadas no Legislativo, o que obrigará qualquer governo a negociar com suas lideranças. A pregação da candidata do PSB a presidente, Marina Silva, por uma “nova política” não é levada a sério entre pemedebistas, porque, se eleita, ela dependerá mais do PMDB do que Dilma e Aécio para construir acordos com o Congresso, por dispor da base partidária mais frágil.
Algumas lideranças pemedebistas vão além: acreditam que o partido teria mais influência em eventual governo de Marina Silva do que sob Dilma, mesmo ocupando a Vice-Presidência da República. Ou seja, o que vier é lucro.
Os rumores de que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa envolveu importantes figuras do partido no esquema de corrupção da Petrobras, como o senador Renan Calheiros (AL) e o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, e o deputado Eduardo Cunha (RJ), líder na Câmara, são minimizados pelo comando do PMDB.
Dizem que, mesmo que as denúncias sejam comprovadas e esses personagens percam poder, o PMDB continuará sendo o maior partido do Congresso e o mais influente.
E outros quadros da legenda substituirão os que eventualmente caírem em desgraça.
A maior parte dos pemedebistas se divide, nos Estados, entre o apoio a Dilma ou Aécio Neves. Marina conta principalmente com o apoio de parlamentares dissidentes do PMDB, como os senadores Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE). Se ela vencer, eles poderão até desempenhar funções importantes no governo, mas nunca serão transformados em interlocutores do partido. A cúpula avisa: Marina teria de negociar “institucionalmente” com a direção do PMDB.
O entusiasmo de pemedebistas com um ou outro candidato oscila um pouco ao sabor das pesquisas de intenção de voto. Quando o tucano começou a perder pontos, setores do partido do Rio de Janeiro e do Mato Grosso do Sul, que o apoiavam, emitiram sinais de disposição de conversar com o governo.
Se a curva de crescimento das intenções de voto em Aécio, registrada pelas pesquisas, continuar, a tendência é que o tucano recupere apoios no PMDB. O fato é que, qualquer que seja o próximo presidente, o partido estará a postos no Congresso para facilitar – ou dificultar- a governabilidade. E terá quatro anos para preparar um candidato para 2018 ou constatar que é mais vantajoso continuar reinando no Congresso.
Raquel Ulhôa é repórter de Política em Brasília. Escreve mensalmente às quinta-feiras
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